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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Poema XLIV




Pablo Neruda

Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
E por isso te amo quando te amo.


(Retirado de: Cem sonetos de amor)

acabou rimbaud


29 jun. 2009

Último poema;
Público se apena,
Recusa, lamenta:
Acabou Rimbaud.

Morte só se aceita
De quem se enterra,
Não de voz ou pena:
Acabou Rimbaud.

Mas um dia cessa
(Apesar da crença!)
O cantar da musa:
Cala-se o cantor.

Ouçam o Pregador:
“Livros, há centenas!”.
Já ninguém se lembra:
Acabou Rimbaud.

Ari Denisson

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Música e poesia-23 de julho


23 de julho na casa da palavra.Não percam.

sábado, 11 de julho de 2009

Mangá alagoano


Um grupo de jovens alagoanos se uniu no ano passado e lançou o primeiro volume da revista Clash.O nome do grupo é Graphic Boken(Graphic de gráfica e Boken de aventura em japonês) e pretende misturar suas influências para criar suas HQs.Influenciados pelos mangás(quadrinhos japoneses)e ainda muito fãs dos comics(quadrinhos americanos)os roteirista Luis Horutenshio e os desenhistas J-Darsh e Marc constroem histórias empolgantes e com roteiros surpreendentes.Se você quer conferir os trabalhos desses alagoanos é só baixar:
Inside Control 1%
acesse também ao blog do estúdio:
blog da Graphic Boken

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Autopsicografia



O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O tato

O olho enxerga o que deseja e o que não
Ouvido ouve o que deseja e o que não
O pinto duro pulsa forte como um coração
Trepar é o melhor remédio pra tesão
Um terço é muita penitência pra masturbação
A grávida não tem saudades da menstruação
Se não consegue fazer sexo vê televisão
Manteiga não se usa apenas pra passar no pão
Boceta não é cu mas ambos são palavrão
Gozo não significa ejaculação
O tato mais experiente é a palma da mão

O olho enxerga o que deseja e o que não
Ouvido ouve o que deseja e o que não
Depois de ejacular espera por outra ereção
O ânus precisa de mais lubrificação
Por mais que se reprima nunca seca a secreção
O corpo não é templo, casa nem prisão
Uns comem outros fodem uns cometem outros dão
Por graça por esporte ou tara por amor ou não
Velocidade se controla com respiração
O pau se aprofunda mais conforme a posição
O tato mais experiente é a palma da mão

Arnaldo Antunes

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pimba na Gorduchinha

26-5-2009
De tão cuidado ter acho que já
Estoporei a cota de cautela:
Tanto a vida sorri-me e brilha, bela
E eu, desconfiado, deixo-a ir, passar...

Não merecem sessão em outra tela
Os filmes que que nos fazem só chorar.
Devo explodir de meus pulmões o ar:
Para sapos não foi feita a goela...

Porém, fácil não é eu me adaptar
Às trilhas novas que meu pé caminha
Nem contra tantos moinhos batalhar

E, em vez da obsessão de andar na linha,
Quero escutar a voz que manda ir já,
Dizendo: "Vai, pimba na gorduchinha!"


Ari Denisson ( mestrando de Letras e professor da Ufal na área de Língua Espanhola)

Os heterônimos- Fernando Pessoa


Assim Como

Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade,
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada.
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos, infância da doença.
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.


Alberto Caeiro



Estás só. Ninguém o sabe.

Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada 'speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,

Sorte se a sorte é dada

Ricardo Reis



Barrow-on-Furness


Sou vil, sou reles, como toda a gente
Não tenho ideais, mas não os tem ninguém.
Quem diz que os tem é como eu, mas mente.
Quem diz que busca é porque não os tem.
É com a imaginação que eu amo o bem.
Meu baixo ser porém não mo consente.
Passo, fantasma do meu ser presente,
Ébrio, por intervalos, de um Além.

Como todos não creio no que creio.
Talvez possa morrer por esse ideal.
Mas, enquanto não morro, falo como leio.

Justificar-me? Sou quem todos são...
Modificar-me? Para meu igual?...
— Acaba lá com isso, ó coração!


Álvaro de Campos