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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Plano de saúde

17/12/2008
Amei-te tanto que manter não pude
O funcionamento pleno e ordeiro
Do meu corpo e da mente; então, ligeiro,
Corri atrás de um plano de saúde.

Complexidade digna de talmude
Acho ao contrato em olho passageiro
Ao passo que, de modo esperto, arteiro
E persuasivo, o corretor me ilude.

Assino-o. Esperançoso, espero o fim
Das carências e, um dia, quando vim
Ao hospital por encontrar-me doente

De amar-te, o plano me ajudar não vi:
Meu tratamento ele não quis cobrir
Pois esse amor era pré-existente.


Ari Denisson

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom esse poema. Vê-se aqui a cesura vadiando: o ritmo lógico com os cortes em ressonância com o ritmo melódico, transcorrendo a rima e a pronúncia dos versos com certa obstrução - o que remete à voz de quem tem dificuldade de falar devido à enfermidade. As inversões sintáticas dão um tom clássico a um tema quotidiânico. Legal.

Ari Denisson disse...

Generosa microanálise de VolksWagner Williams: fruto de uma incapacidade em fechar períodos simultaneamente aos versos, esse transbordar de enjambements acabou adquirindo um sentido enfim favorável.

Mas a intervenção final merece calorosíssimos parabéns da equipe do Quotidiano. Hilários os anúncios de planos! É o poema aí servindo como espaço inconcluso de criação, em que "a emenda saiu melhor que o soneto".

Abraços.

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