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sexta-feira, 17 de abril de 2009

PSICOLOGIA DE UM VENCIDO



Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Produndissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme -- este operário das ruínas --
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos

1 comentários:

Unknown disse...

A hediondez estética dos Anjos deve aparecer aqui mais vezes. Demais esse soneto! Que arte! Que técnica. É indubitalvemente uma convite à observação a que tudo nessa vida possui beleza, inclusive o que se apresenta feio.

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