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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Não tem moleza - Alessandro Litrento

Não tem moleza
Alessandro Litrento

-Ô, Firmino! Cadê tu, homem de Deus? Não vou esperar mais não. Daqui a pouco o ônibus tá passando! Já tô indo. Tchau!
-Peraí, Nena! Já vou! Tava aí do lado, na casa do Jorge, vendo os classificados, anúncios de emprego, você sabe, né?
-Tomara Deus que você consiga alguma coisa. Estamos com a corda no pescoço.
-É. Eu sei.
-Então, tchau, tô atrasada.
-Tchau, meu amor. Vai com Deus. Se aparecer alguma coisa hoje, eu levo os meninos pra casa da sua mãe.
-Tá certo. Um beijo.
Lá vai Madalena, apressada, pegar duas conduções para sentar por oito horas em frente a uma linha de produção de peças para persianas. Quase toda manhã é a mesma rotina. Firmino leva a esposa à porta, despede-se e corre pros classificados, aguardando que uma oportunidade de emprego. Cuida dos meninos. Dois: Pedro e Letícia. Às vezes, D. Lurdes, a vizinha sessentona, quando está de boa vontade, vem dar uma força. Torneiro mecânico dos bons, Firmino ficou desempregado há dois anos depois que a empresa siderúrgica, da qual era funcionário a mais de vinte anos, colocou todo mundo em férias coletivas. Nada de seus direitos. Saiu com uma mão na frente e outra atrás. Até hoje aguarda que a justiça dê ganho de causa aos funcionários demitidos. Dois anos de bicos. Firmino é um “faz tudo”: eletricista, mecânico, encanador, marceneiro, pintor. Não fica parado, não. Mas as coisas não estão fáceis. Há muitos dias que nada aparece. Quando se está com quase cinqüenta a coisa fica pior ainda. As oportunidades vão se fechando.

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1 comentários:

Proteja Online disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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